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domingo, 1 de junho de 2014

Capítulo 5 - Um Novo Começo


Foram longos dias, entre delírios e lucidez. Uma certeza apenas, que minha vida recomeçava. Algum propósito existia, O que mais tarde eu descobriria...

Maria Eduarda e Jorge se revesavam em pernoitar no hospital, pois para minha mãe já estava ficando muito cansativo por ficar dias e dias ali, eles se revesavam para poder deixar minha mãe tentar descansar um pouco durante a noite.

Já a havia se passado uma semana e eu ainda não dava sinal de melhora.  O medico   tentava de todas as formas fazer com que eu reagisse ao tratamento, mas ainda não dava o resultado esperado. 
Maria  surpreendia-se pela dedicação de Jorge, ele em nenhum momento demonstrava cansaço ou que já não ia mais ficar ali presente. 
-Jorge, você já está cansado de ficar aqui?  
-Não, to bem ( Ele responde )
-Eu achei que fosse só no começo que você iria ficar, Mas vejo que não. 
Jorge então desabafou.
- Sei e percebi que de alguma forma eu sou o responsável por isso ter acontecido, mesmo por que se ele andou desorientado pela rua e foi parar lá naquele lugar até ser assaltado e tal.  Eu fui culpado, por que  antes disso ele me procurou e eu o tratei mal, nem deixei ele falar. Acabei entendendo de que o fato dele gostar de mim não muda em nada o carinho que eu sinto por ele. A amizade dele sempre foi verdadeira, em nenhum momento destes anos, Nunca, Nunca mesmo me faltou com respeito, ou que eu percebesse algo diferente da parte dele. O Marcelo  sempre teve presente na minha vida em tudo, não vai ser o fato de ele ser gay que vai mudar o que nós somos, isso que aconteceu serviu para que eu percebesse que ele é muito importante em minha vida, mais até do que eu pensava."   
Maria  lhe deu um abraço apertado e um beijo no rosto lhe dizendo que ficava feliz por estar ouvindo ele falar aquilo.

Passou-se mais dois dias depois daquela conversa. E então de  madrugada  eu finalmente dei sinal que estava me recuperando,   Me virei de lado  na cama, não havia ninguém naquele momento ali, surpresa maior foi para o medico que só notou isso pela manhã, por isso  decidiu tirar-me do coma induzido.
No outro dia. Comecei acordar, ao abrir meus olhos pela primeira vez, E ao ver o jorge ao meu lado. Me emocionei e uma lágrima caia sobre minha face sem ter  como impedí-la.  Eu ainda não conseguia falar, me sentia muito grogue devido a medicação.
Jorge  me olhava fixamente, deixando-me sem graça. Por um momento pareceu-me  entender o que meus olhos diziam. Eu estava muito feliz por vê-lo.

"Nossas vidas são feitas de pequenos momentos, que se tornam grandes devido a sensação que eles trazem...  E com  toda certeza aquele, eu jamais esqueceria."

Passou-se mais dois dias, e finalmente fui levado para o quarto.
Já estava muito melhor, os medicamentos ainda me davam muito sono. Devido a isso eu passava todo tempo dormindo.
Até que um dia eu acordei mas disposto, minha mãe estava do meu lado. Falei: 
- Mãe, desculpa .
Ela disse :
- Do que filho?
- Por tudo isso que eu fiz vocês estarem passando .
"Eu me sentia culpado por estar fazendo as pessoas que tanto amo, estarem ali por minha causa."
Jorge chegava neste momento para passar a noite ali. Perguntou como eu estava. Minha mãe lhe contou  que eu havia acordado.
Ele imediatamente  quis me ver, chegando perto da minha cama. Mas eu havia adormecido novamente.   Começou então a me observar, olhava para mim de uma forma carinhosa, mesmo sem entender por que fazia, seus olhos se encheram de lagrimas ao pensar que talvez eu não tivesse  sobrevivido. Neste instante  eu acordei e lhe vi  parado olhando fixamente para mim com seus olhos marejados.  Uma emoção diferente ocorreu. Nossos olhares se completavam. Ele então me disse, já chorando:
-Desculpa, me perdoa. A culpa por você estar aqui é minha.
Eu com muita dificuldade falei.
-Não tem por que te desculpar, você não tem culpa de nada... 
- Obrigado por estar aqui, por estar perto de mim aqui nesse momento. 
( Então ele me disse:)
- Não fala mais, descansa,  Eu quero ouvir tudo o que tu quiser me dizer, mais só depois que tudo ficar bem... Eu to aqui do teu lado e sempre estarei. Meu amigo.
Fechei meus olhos, e adormeci. E num gesto surpreendente Jorge me deu um beijo na testa.  O mais sublime gesto de carinho que pela primeira vez ele demostrava. 

Passou-se mais alguns dias...


Eu estava me recuperando rapidamente. Então minha alta foi dada, eu ainda não conseguia andar por isso tive que me acostumar à me locomover em uma cadeira de rodas, no dia da minha alta, Jorge foi quem ajudou-me colocar nela, levando-me  para casa com o seu carro e ao chegar, mais uma vez ele carregou-me  no colo até o meu  quarto.
Naquele dia, Jorge ficou comigo até que eu dormisse o que logo aconteceu, depois disso,  avisou para minha mãe que mais tarde viria e que eu acabava de dormir. Minha mãe se despediu e agradeceu por tudo o que ele havia feito por mim. Neste momento Maria Eduarda chegava. Ela e minha mãe, conversaram um pouco, enquanto eu dormia. Acabei não vendo Maria, que em seguida foi embora.
Os dias foram se passando. Para mim era difícil ter que depender dos outros para até mesmo ir ao banheiro, percebia  que estava dando muito trabalho para minha mãe, assim como  para o jorge. Pois eu não queria que ele sentisse na obrigação de me ajudar, nem pena e nem culpa pelo que aconteceu. Isso acabou ficando claro na conversa que tivemos.

Era noite, eu estava assistindo televisão quando ele chegou. Abriu a porta e foi logo perguntando como eu estava,  disse que estava bem.  Logo agradeci por ele estar se  preocupando comigo, disse que senti-me  muito feliz por tê-lo por perto. Então foi que ele me disse  que se sentia-se culpado pelo que tinha acontecido, e que  ficava feliz em poder me ajudar, que ele somente retribuiria o carinho que eu demostrava por ele.
Foi então que perguntei:
- Tu senti pena de mim, Jorge?
- Não, claro que não.
- Não quero que tu sinta pena de mim.
Então ele me interrompeu:
- Eu não tenho motivo para sentir pena de ti, nunca tive e nem terei, tu é meu melhor amigo, acho que se fosse eu no teu lugar você teria tido a mesma atitude e ficaria ao meu lado me ajudando. E é isso que eu quero, estar presente. Sei que tu gosta de mim de uma outra forma. O que me resta é aceitar e respeitar você por isso. Sei que um dia tu vai encontrar alguém que goste de ti e te faça feliz. Mas não sou eu, porém isso não impede de que a nossa amizade prossiga, percebi que estava errado quando lhe falei aquelas palavras da outra vez. Fiquei chocado e assustado, não esperava você se declarar para mim daquele jeito, mas hoje entendo que foi melhor para nós dois que as coisas tenham sido ditas, e hoje te digo isso também, de mim você sempre terá o carinho, respeito e uma amizade sincera como sempre tivemos. 

Eu ao mesmo tempo que  ficava feliz por saber que nossa amizade continuaria, meu peito apertado sabia que nada além disso poderia acontecer... Ele era um homem proibido pra mim, e eu teria que aceitar e entender.